Este trabalho versa acerca de três autores da filosofia: Agostinho, Descartes e Putnam. Nele tencionamos estabelecer um paralelo, frisando as semelhanças e dessemelhanças, entre o argumento do cogito em Agostinho, do sonho e do gênio maligno de Descartes e do “cérebro numa cuba” de Hillary Putnam. O argumento agostiniano é trifásico; Descartes desenvolve o seu nas Meditações; Putnam apresenta-o em Razão, Verdade e História.
Em Agostinho, tentaremos estabelecer, antes de tudo, como ele chega à certeza da existência do seu “eu” através do pensamento. Em seguida, mostraremos como o mesmo Agostinho levanta, tacitamente, uma objeção contra a sua própria tese e como ele se encarrega de respondê-la. A citada objeção é esta: como a dúvida e o engano fazem parte do pensamento, pode-se duvidar, inclusive, do próprio pensamento, se não que ele existe, ao menos que ele nos possa conferir alguma certeza. Por fim, esforçar-nos-emos por salientar como Agostinho tira da própria condição da dúvida o fundamento da certeza.
No que concerne ao argumento de Descartes, pretendemos ressaltar os seguintes pontos: qual o seu contexto, como Cartesius chegou a ele e qual foi o seu objetivo. Quanto ao gênio maligno, destacaremos: razão pela qual Descartes teve que inseri-lo no argumento, e como, a partir dele, Descartes chega à certeza do cogito. No que tange ao cogito, acentuaremos: como ele surgiu e qual o seu papel.
Posteriormente, verificaremos como Descartes se desfaz da hipótese do gênio maligno e chega à certeza da existência das coisas exteriores (res extensa) a partir de Deus. De fato, a prova da existência de Deus, bem como os seus atributos de suma verdade e suma bondade acabam desempenhando, no sistema cartesiano, o papel de fundamento de toda a ciência cartesiana. Na conclusão, arrolaremos alguns corolários acerca de Descartes, quais sejam: o recurso metafísico do gênio maligno e de Deus para fundamentar a certeza acerca da existência do eu e das coisas exteriores, respectivamente; o dualismo alma e corpo e a função puramente representativa da mente.
No que diz respeito a Putnam, esperamos salientar os seguintes aspectos: a descrição do pensamento de um cérebro numa cuba; a questão preponderante que ele mesmo coloca, qual seja, se podemos ou não saber, no caso de a hipótese ser verdadeira, se somos cérebros numa cuba; a resposta negativa de Putnam a esta indagação e a razão desta negativa; como ele chega, destarte, a defesa de um realismo não metafísico, mas internista, que não se opõe, de resto, a um relativismo conceitual.
Em seguida, tentaremos mostrar como Putnam substitui, na formação dos nossos conceitos, as categorias absolutas de Kant pela linguagem, moldada, por sua vez, pela biologia e pela cultura. Na conclusão, apontaremos para os seguintes corolários inferidos da argumentação de Putnam: não recorre ao expediente metafísico de Deus ou ao recurso do gênio maligno, mas sim a um cérebro numa cuba, que tem os seus terminais nervosos plugados a um supercomputador, que é veiculado, por seu turno, por um cientista perverso. Não defende, ademais, um realismo metafísico e dogmático.
Relativamente à bibliografia, concernentes às fontes, frequentaremos: os Solilóquios, A Trindade e a Cidade de Deus de Agostinho, cujas edições faremos menção no corpo do texto, as Meditações de Descartes, na sua edição brasileira pela Nova Cultural (Coleção os Pensadores), com tradução de Enrico Corvisieri, e Razão, Verdade e História de Putnam, pela edição portuguesa Dom Quixote. No que tange à bibliografia, tocante aos comentadores, lançaremos mão de Storia della filosofia – Volume III: Dal Romanticismo ai giorni nostri, dos historiadores da filosofia Giovanni Reale e Dario Antiseri, com tradução brasileira por Ivo Storniolo, lançada pela Paulus em 2003: História da Filosofia: De Freud à atualidade.
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