Neste artigo, discorreremos sobre o preâmbulo da theologia philosophica tomásica, a saber, a demonstração da existência de Deus. A fim de entendermos o intento de Tomás em na questão da existência de Deus, urge compreendermos, mui concisamente, como ele concebe o homem e o conhecimento humano. Ora, para Tomás, o homem é o resultado de uma união substancial entre alma e corpo. Consoante esta antropologia, assevera o Aquinate que todo conhecimento humano deve principiar pelos sentidos; mesmo das coisas que excedem os sentidos, ainda em se tratando de Deus que excede maximamente os sentidos, as provas da sua existência devem ser tomadas dos seus efeitos sensíveis. Consentâneo a isso, acentua Tomás que o nosso intelecto nasce como uma tábula rasa onde nada foi escrito; até que tomemos nota das nossas primeiras experiências sensíveis, ele permanece indeterminado. Ora, partindo destes pressupostos manifestamente aristotélicos, é-lhe vedado seguir a via anímica de Agostinho e Anselmo no que concerne à existência de Deus.
Seguindo de perto os primeiros capítulos da Contra Gentiles, começaremos por arrolar os argumentos dos que defendem que a existência de Deus goza de uma evidência imediata e que, por isso mesmo, pode ser demonstrada a priori. Em seguida, coligiremos, sinteticamente, os argumentos arrazoados por Tomás contra ambas as teses. Logo depois, passaremos a compilar os argumentos que pretendem defender que a existência de Deus é um dado acessível somente pela fé. Concomitantemente a isso, discorreremos acerca dos argumentos de Tomás que refutam também a esta postura. Esmeraremos por mostrar que o Aquinate defende que a existência de Deus é demonstrável pela razão a partir das realidades sensíveis. Tentaremos tornar claro também, que ele defende que a demonstração a posteriori da existência de Deus não só é possível como necessária, posto que, embora sumamente evidente em si mesma, a proposição Deus existe não o é para nós, que desconhecemos a essência divina. Tomando por base o texto da Summa Theologiae, exporemos ainda as cinco vias das quais lança mão Tomás para dispor ao leitor uma prova cabal da existência de Deus. Seguir-se-ão os comentários finais do texto.
A estrutura do nosso texto será a mais didática possível. Acercar-nos-emos da questão, contemplando três problemas fundamentais: a evidência ou não da existência de Deus; a demonstrabilidade ou não da existência de Deus e a demonstração propriamente dita da existência de Deus pelas cinco vias. No que toca ao primeiro problema, abordá-lo-emos na seguinte sequência: primeiro arrolaremos os argumentos que defendem a evidência imediata da existência de Deus; depois exporemos a refutação destes argumentos por Tomás. No que tange ao segundo problema: exporemos, primeiramente, os argumentos que negam ser possível a cognoscibilidade natural da existência de Deus; em seguida, apresentaremos os argumentos pelos quais Tomás refuta tal tese e defende a possibilidade e a necessidade da demonstração da existência de Deus. Na terceira questão, ater-nos-emos a expor as cinco vias, tais como se encontram, na sua formulação mais metafísica, na Summa Theologiae. Portanto, os dois primeiros tópicos, serão abordados a partir da Summa Contra Gentiles. No último, adotaremos a exposição sumária da Summa Theologiae.