O texto versa acerca do fim último do homem na perspectiva de Tomás. Ele começará por estabelecer a necessidade de um fim último para todas as coisas, máxime para a vida humana. Em seguida, investigará qual é este fim último. Nesta investigação, procederá da seguinte forma. Num primeiro momento, tentará descartar aquilo em que não pode consistir o fim último do homem. Procurará, destarte, mostrar como o fim último do homem não pode estar: nem nos bens do corpo, nem nos bens da alma. Em uma palavra, estabelece que o fim último do homem não pode ser o próprio homem. Argumentará, ademais, que assim é, porque destes bens, nem os relativos ao corpo, nem os relativos à alma, podem aquietar a aspiração da vontade, que tende para um bem perfeito e universal. Assim sendo, tentaremos colocar que o fim último do homem só pode ser Deus.
Posteriormente, prosseguiremos na tentativa de assinalar em que consiste este fim último do homem, que já sabemos ser Deus. Nesta perquirição, procuraremos mostrar que a beatitude humana consiste na visão da essência divina. Em seguida, buscaremos ponderar que o fim último do homem reside, primordialmente, num ato do intelecto, o qual é seguido pela vontade. Como este intelecto se divide, quanto às suas operações, em intelecto especulativo e prático, analisando ambas as funções, tentamos demonstrar que a beatitude perfeita só pode consistir num ato do intelecto especulativo.
Passaremos a distinguir a noção de beatitude imperfeita e de beatitude perfeita. A beatitude imperfeita é aquela que reside na contemplação dos objetos concernentes às ciências especulativas e a beatitude perfeita consiste na contemplação da essência divina. Acentuaremos, ademais, que, por ser a beatitude perfeita algo sobrenatural, ela não pode ser lograda nesta vida, nem sem a assunção da graça. Contudo, faremos notar também, que o caráter sobrenatural deste fim último não se opõe à natureza e nem à beatitude imperfeita que podemos alcançar nesta vida; pelo contrário, a beatitude imperfeita não é senão uma participação naquela beatitude perfeita. Por fim, salientaremos que, conquanto a contemplação da essência divina consista, essencialmente, num ato do intelecto especulativo, a felicidade perfeita envolve o homem todo: corpo e alma.
Em nossa exposição, teremos dois textos básicos: a Summa Theologiae de Tomás, na sua mais recente tradução brasileira – empresa de fôlego das Edições Loyola –, que resultou no aparecimento de nove volumes, entre os anos de 2001 a 2006, e o clássico Le Thomisme (1919) de Étienne Gilson, o qual frequentaremos na sua versão castelhana (1951) – única autorizada do original francês – por Alberto Oteiza Quirino: El Tomismo: Introducción a La Filosofía de Santo Tomás de Aquino. |