Este despretensioso ensaio tem a intenção de trabalhar quatro conceitos concernentes à física aristotélica, quais sejam: os conceitos de movimento, lugar, tempo e infinito. Procederemos evitando, ao máximo, os cipoais que até hoje medram entre os intérpretes de Aristóteles, e também certas minúcias técnicas que podem antes confundir o leitor que esclarecê-lo. Todavia, será deveras necessário o uso de certos termos técnicos já consagrados. Porém, envidaremos esforços para não deixá-los sem ulteriores apontamentos que, esperamos, possam torná-los mais acessíveis ao entendimento.
Primeiro discutiremos acerca do movimento e dos tipos de movimento. Depois, cotejando os textos aristotélicos, tentaremos elaborar uma definição de lugar. Em seguida, passaremos a abordar a questão do tempo, procurando delinear o seu conceito, bem como as suas relações com o movimento e com a alma. Posteriormente, adentraremos na questão do infinito, tentando frisar a peculiaridade que esta noção ganha no pensamento do Estagirita.
É sabido – mas faz-se mister a advertência – que o que Aristóteles desenvolve não é exatamente uma física, ao menos no sentido que este termo ganhou na modernidade. Na verdade, trata-se mais propriamente de uma “metafísica do sensível” que vem ao encontro da sua própria concepção de physis como sendo uma ciência teorética, precedida pela metafísica, e sucedida pela matemática. É que, para Aristóteles, ambas as ciências, conquanto distintas, estão interligadas.
Cabe frisar, a título de adendo, que o Filósofo foi o primeiro a estudar a physis, não como uma realidade absoluta ou representando a totalidade do ser, mas sim como a totalidade do ser sensível. É com Aristóteles, ademais, que o termo natureza passa a designar, propriamente, a realidade sensível.
Além disso, vale acentuar que muitos aspectos da física aristotélica já foram superados e tornaram-se obsoletos com os avanços inegáveis da física moderna. No entanto, os princípios metafísicos que ele aplicou para poder desenvolver a sua “metafísica do sensível”, continuam não somente válidos, mas inolvidáveis para a compreensão da história da filosofia e justificam-se por si mesmos. Ora, são estes princípios e conceitos que elegemos contemplar, e serão eles que privilegiaremos neste ensaio.
A fim de transitarmos na temática proposta, além de perícopes dos livros da Física, frequentaremos uma bibliografia clássica, a saber, Storia della filosofia antica, in cinque volumi, do historiador e estudioso da filosofia Giovanni Reale. Disporemos da edição brasileira – História da Filosofia Antiga: II Platão e Aristóteles – lançada pelas Edições Loyola e trazida ao vernáculo por Marcelo Perine e Henrique Cláudio de Lima Vaz. A edição da qual faremos uso remonta ao ano de 1994.