João Duns Escoto nasceu em 1265/1266, em Duns, na Escócia. Feito frade ainda pequerrucho, foi admitido no convento com apenas quinze anos de idade (1278/9). Tornou-se sacerdote em 1291; tendo estudado em Paris e ensinado em Oxford (1297 a1301), retornou a Paris já como Bacharel Sentenciário. Fora obrigado novamente a deixar Paris e voltar à Inglaterra durante a luta entre Felipe, o Belo, e o Papa Bonifácio VIII, porque se recusara a aderir à causa do rei. No ano seguinte, retornou a Paris, onde, em 1304, por indicação do Ministro Geral da Ordem, obteve a Licenciatura e o Magistério em Teologia. Ainda a mando do Ministro Geral, foi enviado a Colônia, vindo a falecer com apenas 42 anos de idade, em1308. Espírito eminentemente lógico, fundou uma tradição que veio a prevalecer na Universidade de Oxford. Extremamente exigente em matéria de demonstração, o Doutor Sutil revisou e corrigiu muitas das ideias vigentes em sua época, inaugurando, assim, um novo modo de pensar as relações entre fé e razão.
Na nossa pequena reflexão, tentaremos expor, de forma sucinta, as contribuições mais significativas de Duns Escoto no que concerne à questão da existência de Deus. Procuraremos, no corpo da argumentação, destacar os movimentos lógicos do Doctor Subtilis. Na sua concepção, só podemos chegar a Deus quando alcançamos a noção de ente infinito, que é a mais perfeita ideia que a nossa inteligência pode formular. Por isso, a sua demonstração comporta duas fases: na primeira, estabelece a existência de um ente primeiro; na segunda, que este ente primeiro é um ser infinito. Fá-lo-á não como seus predecessores, tomando como ponto de partida, quer uma ideia abstrata de Deus, quer os seus efeitos sensíveis. Não pode partir da ideia, porque uma ideia da essência divina é-nos denegada nesta vida; é-nos vedado, ademais, partir das coisas sensíveis, porque embora evidentes, eles são contingentes, isto é, pertencem ao mundo físico. Mister para Escoto, é partir de algo que seja certo e necessário. Ora, no bojo da própria contingência, ele se depara com estas duas propriedades. De fato, se é contingente que o mundo exista, pois ele existe e pode não existir, é necessária, todavia, precisamente esta contingência, visto que é ao menos necessária a possibilidade de haver um mundo. Por isso, fato certo e necessário, ei-lo: a contingência do mundo. Logo depois, arrolará Escoto as razões pelas quais deve haver um ente primeiro e em que consiste a sua infinitude. Seguir-se-ão, por fim, as considerações finais do texto, que será uma breve reelaboração da “ratio anselmi” por Escoto.