Leonel Franca é natural de São Gabriel, Rio Grande do Sul. Franca nasceu no ano de 1893. Estudou em colégio alemão e, aos treze anos, matriculou-se no Colégio Jesuíta de Nova Friburgo. Em 1908 ingressou na Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote em 1923, doutorou-se em Filosofia e Teologia pela Gregoriana de Roma. Lecionou no Colégio de Filosofia em Friburgo (Estado do Rio), tendo sido também vice-reitor do Colégio Santo Inácio e um dos fundadores da PUC do Rio de Janeiro. Franca foi, sem nenhum favor, um dos maiores intelectuais brasileiros de todos os tempos. Houvesse nascido na Europa ou não tivesse a morte posto um fim aos seus projetos, não precisaria tirar o chapéu para nenhum dos seus coetâneos. Franca morreu em setembro de 1948. É consenso entre todos os que desfrutaram da sua amável convivência, ter ele morrido em estado de santidade.
Entre as suas obras mais significativas estão: Noções de História da Filosofia (apesar do estilo um tanto envelhecido e de uma bibliografia que precisaria ser atualizada, continua sendo a mais bem-sucedida tentativa, por parte de um autor brasileiro, de compendiar a história da filosofia); Psicologia da Fé (uma pérola filosófica e teológica); O Problema de Deus (Coleção de textos que, agrupados, acabaram por se tornar uma obra de Teodiceia que em nada fica a dever às demais obras do gênero e que se destaca tanto pela penetração metafísica quanto pela metodologia adotada e, finalmente, pela profunda pesquisa das fontes); A Crise do Mundo Moderno (na apreciação de Lima Vaz, trata-se de um marco na literatura filosófica brasileira, por ser o melhor tratado de Filosofia da Cultura já publicado no Brasil).
Neste artigo tentaremos mostrar como, na percepção de Franca, o homem compreende em si dois mundos: o da matéria, pelo seu corpo, e o do espírito, pela sua alma racional. Se pelo seu corpo ele se encontra imerso na matéria, pelo seu espírito, ele emerge das determinações materiais, sobrepondo-se a elas com o fito de dominá-las e subjugá-las ao fim que lhe apraz. Assim, trabalharemos com esmero para mostrarmos que, em Franca, o que distingue o homem enquanto tal é a vida no espírito. É esta vida, à qual ele se abre pela educação, que o torna sociável, pois onde impera a matéria não há verdadeira sinergia de interesses, ao menos se a pensamos sob o signo da liberdade. Esforçar-nos-emos, ademais, para tornar patente que é pela vida no espírito que o homem produz cultura, compreendida como toda obra humana que sobrepuje ao mundo natural. De fato, Franca entende por cultura o cultivo da vida no espírito. Após coligirmos as principais manifestações da cultura humana, arrazoaremos sobre a missão precípua do estado que consiste em, através do direito, preservar, fomentar e proteger a cultura de um povo, que é o conjunto de homens que habitam um mesmo espaço geográfico e que se tornam uma nação, isto é, forma uma unidade cultural, exatamente quando sabem preservar e transmitir aos pósteros, através de uma unidade política bem organizada, a qual denominamos precisamente estado, o depósito cultural que lhe foi legado pelas gerações passadas, depósito que Franca designa tradição. Velar pela cultura, ressaltará Franca, integra o sentimento pátrio, que é o amor pelo solo que gerou nossos pais, que nos gerou e onde nossos filhos viverão, os seus costumes e tradições. Por fim, arrolaremos os principais fatores que, na perspectiva do nosso filósofo, contribuíram para desencadear a crise do mundo moderno, que ele mesmo entende ser uma crise cultural. Dentre estes fatores, Leonel destaca o subjetivismo da filosofia moderna e, mormente, o irracionalismo oriundo da teologia reformada.
Servirá de referencial teórico à nossa abordagem, a obra A Crise do Mundo Moderno, na sua segunda edição pela Livraria José Olympio, que data do ano 1942.