Garrigou-Lagrange nasceu em 1877, em Auch, na França. Recebeu a primeira educação cristã na sua própria cidade natal. Os estudos ginasiais foram feitos em diversas cidades e concluídos em Tarbes. Dentre as matérias, destacava-se em Filosofia. Certa feita, o inspetor de um dos colégios em que estudou ficou impressionado ao ver com que argúcia e descortino o menino respondia às questões filosóficas. Tal inspetor era Jules Lachelier, um dos mais notáveis filósofos e católicos franceses do século XIX. Depois de haver concluído o liceu, Garrigou ingressou na Faculdade de Medicina, em Bourdeaux. Decorridos dois anos de curso e de uma vida sobremodo austera para um universitário, sentiu o chamado à vida sacerdotal, vindo a ingressar na Ordem Dominicana em 1887. Após haver terminado os seus estudos teológicos sob os auspícios do insigne teólogo Pe. Ambroise Gardeil, foi ordenado sacerdote no ano de 1902. Em 1904, é enviado à Sorbonne pelos superiores da Ordem para aperfeiçoamentos em filosofia. Lá, entre outros, teve como professor Henri Bergson. Em 1905, começou o seu magistério em Saulchoir como professor de história da filosofia. Passou também a dedicar-se mais profundamente ao estudo do pensamento de Tomás de Aquino e da escola tomista, empresa que iria acompanhá-lo pelo resto da vida.
No ano 1909, o Pe. Cormier – mestre geral dos Dominicanos e fundador do Colégio Angélico (Ateneu Angelicum, futura Pontifícia Universidade Romana de Santo Tomás) – chamou Pe. Garrigou – então com apenas trinta e dois anos de idade – para lecionar Teologia Dogmática em Roma. Garrigou exerceu o seu magistério no Angelicum durante cinquenta anos. Neste tempo, a sua fama de agudo filósofo já começara a se espalhar em virtude da publicação do seu primeiro livro: Le sens commun et phiiosophie de l'être (1909). No Angelicum, ministrou a disciplina De Revelatione durante oito anos e comentou todas as partes da Summa Theologiae. Em 1917, já renomado teólogo, começou a ministrar cursos de teologia espiritual e, a partir de 1922, tornou-se membro fundador do chamado Cercles de S. Thomas. Como partícipe deste círculo, onde também ministrava palestras de teologia e espiritualidade, estreitou laços de amizades com célebres filósofos, entre os quais podemos citar: Jacques e Raissa Maritain, Charles Jourmet e O’Sullivan. Em 1923, publica uma meditação sobre espiritualidade que se tornará um clássico do gênero: Perfection chrétienne et contemplation selon saint Thomas d'Aquin et saint Jean de la Croix.
Sua ardente ortodoxia e sobeja inteligência fizeram com que fosse nomeado consultor do Santo Ofício no ano de 1955. Entretanto, a melhor parte da sua vida não está aí. Na verdade, permanece no cargo mais por admiração ao Cardeal Otavianni do que pelo ofício, já que as questões tratadas nas reuniões passam mui longe dos interesses do seu gênio especulativo, pois visavam muito mais ao campo prático. Vale lembrar, ademais, que Pe. Reginald foi professor e mestre de algumas das mais emblemáticas figuras da vida e da teologia católicas do nosso tempo. Entre estes, citemos o ilustre teólogo dominicano, Marie Dominique Chenu e Karol Woytila, depois Papa João Paulo II. Inobstante o peso dos anos e a saúde abalada, sua fama de arguto teólogo fez com que fosse ainda nomeado por João XXIII como conselheiro da Comissão Preparatória Central do Concílio Vaticano II. Porém, houve por bem renunciar ao cargo, devido ao seu agravado estado de saúde, prometendo ao Pontífice oferecer todas as suas dores pelo bom êxito do Sínodo. Veio a falecer no ano de 1964, no Mosteiro de Santa Sabina.
Pe. Garrigou foi escritor profícuo e intrépido. Fidelíssimo ao tomismo clássico, repugnou as teses modernistas, defendendo com afinco as chamadas vinte e quatro teses tomistas. Estudou Caetano, Bãnez e João de Santo Tomás. Seu magistral estudo sobre teodiceia continua sendo referência obrigatória para quem estuda ou leciona esta disciplina: Dieu. Son existence et sa nature (Paris, 1914). O mesmo se pode dizer da sua obra clássica de síntese, também ela sobremaneira profunda e indispensável a quem deseja aprofundar-se no tomismo tradicional: La synthèse thomiste (Paris, 1946).
Neste artigo falaremos acerca da crítica de Garrigou-Lagrange ao conceito de verdade propugnado pela filosofia da ação e sua profusão dentro da teologia católica. Procuraremos discernir este novo conceito de verdade e como ele procede da filosofia da ação. Em seguida, envidaremos esforços para tentar mostrar qual a sua repercussão na filosofia e como ele é veiculado na teologia. Por fim, teceremos as considerações finais.