Este artigo trata da temática da liberdade em Bernardo de Claraval. Ele desenvolveu este tema a partir da concepção cristã segundo a qual o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Após um breve conspecto acerca da vida e obra nosso autor, começaremos por descrever em que, para Bernardo, consistia esta imagem e semelhança de Deus no homem. Como Bernardo entendia que a imagem de Deus no homem se refletia, sobretudo, pelo seu livre-arbítrio, tentaremos definir o que seja o livre-arbítrio para o nosso místico. Ademais, já que, para ele, a semelhança com Deus está no que ele chama de “livre-conselho” e “livre-complacência”, esforçar-nos-emos por discernir o que ele entendia serem estas duas faculdades. Segundo Bernardo estas duas potências são distintas da alma e amissíveis, e o homem de fato as perdeu pelo pecado. Por isso o nosso texto tentará compreender de que modo se deu esta perda e como se deve buscar a restauração do homem como semelhança de Deus. Esmeraremos por fazer notar que esta semelhança com Deus está na liberdade do homem que, segundo Bernardo, não consiste apenas no exercício do seu livre-arbítrio, mas na sinergia entre livre-arbítrio, “livre-conselho” e “livre-complacência”. Em seguida, passaremos às considerações finais do nosso trabalho.
O texto que servirá de base para a nossa reflexão será o de História da Filosofia Cristã. Desde as Origens até Nicolau de Cusa (1951) – parceria de Gilson com Philotheus Boehner. Esta obra foi trazida ao vernáculo pelo Prof. Raimundo Vier, em 1970, a partir da edição alemã: Christliche Philosophie – von ihren Anfaengen bis Nikolaus von Cues (1952 a 1954). Nela encontram-se, além de uma síntese autorizada do pensamento do Doutor Mellifluus sobre o assunto, várias passagens de obras do mesmo que nos servirão de referência para o desenvolvimento da nossa pesquisa.