Otimismo cristão é o nome dado por Étienne Gilson a um capítulo fundamental da sua obra mais famosa: O Espírito da Filosofia Medieval. Nele, Gilson, por meio de uma aguda observação dos fatos, parece desmascarar um preconceito que, por séculos, havia estorvado o renascimento do pensamento cristão no âmbito laico, a saber, o de um suposto pessimismo embutido na antropologia cristã. Ele transpõe esta falsa barreira trabalhando, precisamente, o conceito de natureza corrompida nos pensadores cristãos, máxime, em Tomás de Aquino.
De fato, a expressão natureza corrompida – na sua literalidade – é uma contradição em termos. Com efeito, não há como uma natureza, isto é, os princípios constitutivos de um ser, ser corrompida, sem deixar, ipso facto, de ser a natureza do dito ser. Sem embargo, esta expressão – natureza corrompida –, se não for entendida como se deve, equivalerá à absurda proposição de que uma coisa pode deixar de ser o que é e, inobstante isso, continuar sendo o que era. |