Neste artigo falaremos acerca do Deus criador. A abordagem dar-se-á no âmbito da teologia filosófica tomásica, prescindindo dos aspectos concernentes à teologia do dogma. Não pretende ser, nem de longe, uma abordagem exaustiva de tema tão vasto. Mesmo do ponto de vista filosófico, teremos que nos ater somente aos grandes momentos do tratado. A sequência obedecerá à ordem da Summa Theologiae e da Summa Contra Gentiles, cabendo ao clássico Le Tomisme de Étienne Gilson, as precisões das quais lançaremos mãos no decorrer texto. Antes de tudo, abordaremos as dificuldades pertinentes ao aparecimento do termo emanação no tratado da Suma Teológica sobre a criação, pois na filosofia pagã este termo era usado num sentido inconciliável com o da noção da criação judaico-cristã. Continuando, debruçar-nos-emos sobre a expressão ex nihilo, procurando acurar como Tomás o entende. Passaremos então a descartar os grandes equívocos acerca da noção de criação. Em primeiro lugar, definindo, que ela não é um movimento, nem implica nenhuma mudança. Depois, asseverando que não se pode dizer que a criação seja uma recepção do ser.
Feito isso, abordaremos a questão do ato criador com base numa perspectiva existencial, como, de resto, parece ter feito Tomás. Partindo deste fundamento, trataremos as questões clássicas consoantes o ato criador. Assim, esmeraremos por explicar que só a Deus compete criar, e que, consequentemente, Ele é o criador de todas as coisas. Em seguida, concluiremos que o ato criador é um ato voluntário. Destarte, consideraremos a espinhosa questão sobre como ocorre a passagem do uno ao múltiplo, do Ser aos seres. Ora, no bojo desta exposição, tentaremos colocar como Tomás explica a sobredita passagem a partir da sua teoria das ideias, e como ele distingue o Criador das criaturas a partir da sua noção de participação. Por fim, acentuaremos, uma vez mais, que o ato criador é um ato voluntário, procedente da bondade e do amor divino, e que a razão última deste ato nos conduz ao mistério imperscrutável da vontade de Deus. Passaremos, enfim, às considerações finais do nosso texto, que consistirão em estabelecer que a criação é um influxo contínuo do ato criador, que se confunde com o próprio Deus, sobre as criaturas, sustentando-as no ser e impedindo, desta feita, que elas retornem ao nada.