Há muito escrevi este texto. Não faço ideia
em que gênero literário enquadrá-lo.
Também não julgo que seja destinado à Academia. Escrevi-o apaixonadamente,
mas não passionalmente. A sua conclusão é que não se pode separar filosofia e
vida, filosofia e existência. Todo aquele que as separa produz letra morta. Toda
filosofia que não é encarnada ou não tende a se encarnar é obra morta [SCIACCA,
Michele Federico. Filosofia e Metafisica.
Milano: Marzorati Editore, 1962. v. I. pp. 23 a 81]. Uma palavra que não se
traduz em vida é como uma casa construída sobre a areia. De fato, quem é o
“vericida”, senão aquele que procura uma “verdade” que o sirva e não uma
Verdade a quem servir? [SCIACCA, Michele Federico. Filosofia e Antifilosofia. Trad. Valdemar A. Munaro. São Paulo: É
Realizações, 2010]. Neste sentido, filosofia e moral andam juntas, sim. Com
efeito, quando se trata da verdade mister é ser quente ou frio; se for morno,
Ela o vomitará. Por isso, filosofar é abrir a porta à Verdade, a fim de cear
com ela. Somente dentro deste contexto a
questão das questões, Deus, pode ser pensada. Sciacca, que escreve no mundo
pós-guerra, assevera que tanto certo teísmo caprichoso quanto um ateísmo assaz afetado
provêm da mesma idolatria, a saber, dos que fazem filosofia como se exuma um
cadáver, da idolatria que procede do necrotério dos historicistas, isto é, daqueles
que se dedicam a fazer a autópsia de épocas e de autores. Ora, para estes –
teístas ou ateístas – Deus será sempre um ídolo [SCIACCA, Michele Federico. Filosofia e Metafisica. Milano:
Marzorati Editore, 1962. v. II. pp. 7-14]. Ao menos uma coisa podemos aprender
com Sciacca: o amor à verdade é a alma de qualquer texto e a de qualquer autor.
Sem este amor, tanto o texto quanto o autor não passam de “ossos ressequidos”.
Não é de pouca monta a Verdade Encarnada nos ter dito: “[...] conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará [...]” [Jo 8, 32]. Não que não se possa ter
opiniões, mas estar sob a Verdade é justamente não permitir que opiniões sejam
tomadas por verdades. Urge tratar uma dóxa [δόξα] como dóxa [δόξα]. Tem-se opinião sobre algo, mas não porque não se
acredita na verdade; antes, como não se tem certeza, tem-se medo de trair a
Verdade, afirmando temerariamente. Combater o bom combate, em filosofia, é
combater a “logofobia”.
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