O presente artigo é uma tentativa de articular as ideias fundantes da metafísica aristotélica. Como diz o seu próprio título, este ensaio pretende ser um prolegômeno [Prolegômena plural, Prolegomenon – singular= “as coisas que são ditas antes”] que sirva de aporte intelectual para quem deseja aprofundar-se nas questões primordiais da metafísica do Estagirita. Não se trata, portanto, de um comentário literal ou exaustivo do texto aristotélico. Como já advertimos, este trabalho tenciona ser uma referência para quem quiser, ulteriormente, desenvolver as questões basilares inauguradas pela metafísica aristotélica e pela metafísica em geral.
É sabido que Aristóteles dividiu as ciências em três ramos. Há as ciências teoréticas, que buscam o saber por ele mesmo. Entre elas encontram-se a matemática, a física e a metafísica. Existem, ademais, as ciências práticas, que buscam o saber com fim de legarem aos homens meios conducentes à perfeição moral. Dentre estas ciências, temos a ética e a política. E há, além disso, as ciências poiéticas, que buscam o saber com o fito de produzir algumas coisas. Aristóteles considera as ciências teoréticas como superiores a todas as outras. E, dentre as ciências teoréticas, ele considera a metafísica a mais elevada.
Urge observar, ademais, que o termo metafísica não foi cunhado por Aristóteles. Ele surge ou com os peripatéticos posteriores, ou, mais provavelmente, com a edição dos livros de Aristóteles, organizada no século I a.C, por Andrônico de Rodes. Aristóteles chamava a metafísica de filosofia primeira ou teologia.
Neste texto, iremos abordar as questões centrais da metafísica do Estagirita. Esta empresa aconteçerá na seguinte ordem. No que toca à “aitiologia” aristotélica, discriminaremos quais são as suas quatro causas, e em que sentido devemos entendê-las. No que se refere à ontologia, trataremos do ser e dos seus significados originários. Quanto à “usiologia”, abordaremos as questões relativas à substância: o que é uma substância e quais são os gêneros de substância que existem. No que diz concerne à teologia aristotélica, tentaremos expor como ele demonstra a existência da substância supra-sensível, bem como qual seja a sua natureza e as suas relações com o mundo.
A fim levarmos a cabo esta indústria, além do livro da Metafísica, faremos comércio com uma bibliografia clássica, a saber, Storia della filosofia antica, in cinque volumi, do historiador e estudioso da filosofia Giovanni Reale. Disporemos da edição brasileira – História da Filosofia Antiga: II Platão e Aristóteles – lançada pelas Edições Loyola e trazida ao vernáculo por Marcelo Perine e Henrique Cláudio de Lima Vaz. A edição da qual faremos uso remonta ao ano de 1994. |