Como neste artigo falaremos dos binômios fé e razão, filosofia e teologia, cuida que distingamos, respectivamente, razão e filosofia e fé e teologia. A razão (ratio), faculdade discursiva do ser e dos “porquês”, é o modo pelo qual a perfeição absoluta da inteligência (intelligentia) realiza-se no homem. Ela caracteriza-se por sua força abstrativa (abstractio, abstrahere), a qual denominamos intelecto (intellectus; intus-legere= ler dentro), capaz de alcançar o ser inteligível das coisas sensíveis e os primeiros princípios, e que se especifica pela sua capacidade de avançar no conhecimento da verdade, mediante um encadeamento lógico, que parte de princípios auto-evidentes e que denominamos raciocínio. Ora bem, a filosofia é o conhecimento pelas causas primeiras e mais universais, através da luz da razão (lumen rationis). Agora bem, a fé é para a teologia o que os princípios naturais são para a razão. Contudo, diferentemente da luz da razão (lumen rationis), que é auto-evidente, a luz da fé (lumen fidei) é uma luz infusa (lumen infusum). Ora, a teologia é uma reflexão que parte da luz da fé (lumen fidei) como de seus princípios primeiros. A teologia não é, pois, a pura fé, mas fruto da razão iluminada pela fé (ratio fidei illustrata). O teólogo, no exercício da sua reflexão sobre os dados nos quais crê, passa a aderir a eles não somente em virtude da Revelação divina, mas também por causa do nexo inteligível, que ele percebe através da meditação teológica sobre as verdades de fé entre si mesmas e as verdades de fé em relação às demais verdades naturais. A fé, portanto, é um habitus infuso; a teologia é um habitus adquirido pelo estudo. A teologia, enquanto sabedoria que se adquire pela pesquisa sobre o dado da fé, distingue-se daquela sabedoria mística, dom do Espírito Santo. |