Gregório nasceu pelo ano 335. Educado por seu irmão mais velho, Basílio, Gregório sempre se refere a ele como a seu pai e mestre. Depois de ocupar o cargo eclesiástico de leitor, optou por ser retor. Decidindo-se pela espiritualidade, isolou-se em Neocesareia, na companhia de sua mãe e irmã. Em 371, tornou-se Bispo de Nissa, sendo ordenado pelo próprio irmão. Mais afeito à teologia que aos assuntos relacionados à política eclesiástica, enquanto teólogo Gregório mostrou-se de uma ortodoxia acima de qualquer suspeita. Foi deposto do episcopado em 376, devido à forte perseguição que sofria por parte dos arianos. Todavia, em 378, após a morte do imperador Valente, retomou à sua cátedra, tendo sido recebido triunfalmente pelos seus diocesanos. Participou do segundo Concílio de Constantinopla, vindo a falecer em 394.
Neste artigo, versaremos sobre os fundamentos da antropologia, da teologia e da ética soteriológica de Gregório. Veremos que, para ele, o homem é o elo entre o mundo sensível e o mundo inteligível. Tentaremos perceber de que modo ele parte da racionalidade humana para provar a existência de Deus, e como nos remete a analogias com a vida espiritual do homem quando trata do dogma da Trindade. Ademais, falaremos acerca da sua ética, segundo a qual o próprio fato de o homem ter sido criado a partir do nada, fá-lo mutável e, ipso facto, capaz de escolher entre o bem e o mal. Verificaremos que o homem escolheu mal e, por preferir as coisas sensíveis às inteligíveis, teve a imagem de Deus obscurecida em sua alma. Observaremos ainda o fato de que, para Gregório, é somente a reunião íntima do homem com Deus, mediante a fé e a caridade, que poderá restaurar a imagem de Deus no homem e fazer com que este se redescubra como tal. Nisto consiste a salvação do homem para o Niceno. Por fim, teceremos as considerações finais ao texto.
Para nossa exposição, valer-nos-emos da Coleção Patrística, nº 29, da Paulus. Nela encontram-se, condensadas num só volume, três obras do Niceno, arroladas na íntegra e traduzidas para o vernáculo por Bento Silva Santos: A Criação do Homem, A alma e a Ressurreição e a Grande Catequese. Lançaremos mãos também da síntese invulgar do pensamento filosófico de Gregório feita por Étienne Gilson, em La Philosophie au Mon Âge. De Scot Érigène à Guilllaume d’Occam (1922), na versão modificada – La Philosophie au Mon Âge. Dès Origines Patristiques à la Fin du XIV – de 1944. A tradução que seguiremos, no caso, será a brasileira, feita por Eduardo Brandão e lançada pela editora Martins Fontes, em 1995: A Filosofia na Idade Média. Por fim, ainda recorreremos à História da Filosofia Cristã. Desde as Origens até Nicolau de Cusa (1951) – parceria de Gilson com Philotheus Boehner –, trazida para o vernáculo pelo Prof. Raimundo Vier, em 1970, a partir da edição alemã: Christliche Philosophie – von ihren Anfaengen bis Nikolaus von Cues (1952 a 1954).