Máximo nasceu pelo ano 580 da nossa era. Membro de uma família distinta de Constantinopla, defendeu a ortodoxia da fé contra a heresia do monotelismo, segundo a qual Cristo teria tido somente uma vontade, a divina, e saiu-se vencedor por ocasião da condenação definitiva desta doutrina no Concílio de Latrão (649). Devido às suas encarniçadas discussões contra os seus opositores, acabou sendo exilado na Trácia. Tendo oportunidade de se retratar durante um sínodo em Constantinopla, não o fez. Por conseguinte, ele e os seus discípulos tiveram as suas línguas e mãos direitas cortadas e foram condenados ao exílio, na região dos lazos, em Cólquia. Máximo faleceu em 662, vitima de inúmeros sofrimentos. Foi sem dúvida o maior teólogo grego do seu século. Procurou realizar uma síntese da teologia dos padres gregos, e a sua interpretação da obra do Pseudo-Dionísio prevaleceu até a Idade Média. Enquanto filósofo, foi eclético: de Aristóteles ao neoplatonismo, pode-se sentir a influência em sua obra.
Neste pequeno ensaio, trataremos do pressuposto fundante da teologia de Máximo, a saber, o esquema neoplatônico exitus/reditus que ele cristianiza. Fá-lo-emos mediante os seguintes tópicos: antes de tudo, destacando a sua concepção de Deus como mônada e princípio de movimento ad intra e ad extra; depois, atentando para a doutrina das essências como concepções do Verbo, que subsistem nele desde toda a eternidade enquanto eidos; em seguida, tentando mostrar a sua concepção das criaturas como participações e revelações parciais de Deus, algumas das quais podem, inclusive, escolher, mediante as suas ações, o seu lugar na hierarquia dos seres; posteriormente, esforçar-nos-emos por tornar evidente a sua concepção de homem como ser livre que, pelo pecado, preferiu assemelhar-se às coisas sensíveis a assemelhar-se a Deus; por fim, esmeraremos por tornar patente a sua concepção de redenção como retorno das coisas a Deus pela mediação do homem que, remido por Cristo, reúne em si a totalidade dos seres. É ele que, unindo-se a Deus pelo conhecimento e pelo amor, pode fazer retornar à essência criadora: a matéria, pelo seu corpo, e o imaterial, pela sua alma.
Servirá de aporte teórico à nossa abordagem a obra de Etienne Gilson: La Philosophie au Mon Âge. De Scot Érigène à Guilllaume d’Occam (1922), em sua versão modificada – La Philosophie au Mon Âge. Dès Origines Patristiques à la Fin du XIV – de 1944. No caso, a tradução que seguiremos será a brasileira, feita por Eduardo Brandão e lançada pela editora Martins Fontes, em 1995: A Filosofia na Idade Média.