Roger Bacon nasceu entre 1210 e 1215, na Inglaterra. Veio para Paris por volta de 1235, onde conheceu Pedro de Maricourt, alquimista que o ensinou a estima pelas ciências empíricas. Rogério não se afeiçoou ao ambiente parisiense. Para ele, os mestres da Universidade de Paris – Alexandre de Hales e Alberto Magno – não passavam de ignorantes, pois não sabiam grego, nem hebraico, além de desconhecerem as ciências matemáticas e a ótica. Regressou à Inglaterra motivado a empreender uma reforma do saber. Ingressou na ordem Franciscana. Voltou a Paris onde entrou em conflito com os seus superiores de hábito, provavelmente por suas ligações com a astrologia e a alquimia. Embora não tenha sido encarcerado, foi forçado a deixar o magistério e só voltou a escrever quando Clemente IV – seu antigo amigo – solicitou que o fizesse. Suas ideias, com acentuadas referências astrológicas e alquimistas, valeram-lhe estar entre aqueles que tiveram as suas teses condenadas em 1277. O Doutor Mirabilis morreu quando começava a escrever o Compendium Studii Theologie, por volta do ano 1292.
Neste artigo, procuraremos expor aqueles conceitos que mereceram a Roger Bacon o epíteto de reformador do seu tempo. Falaremos da sua concepção da teologia como a rainha das ciências, onde está consignada toda a sabedoria. O direito canônico e a filosofia, outras ciências do seu tempo, na concepção de Roger, tinham como missão precípua elucidar o dado revelado. Depois veremos a sua concepção de filosofia como sendo uma revelação divina. Na perspectiva de Roger, todo conhecimento procede de uma iluminação do intelecto agente, que, para ele, não era nem uma faculdade do intelecto humano, nem um intelecto separado, mas o próprio Deus. Em seguida, dissertaremos sobre a sua ideia de uma revelação progressiva de Deus aos homens. Para o nosso filósofo, a revelação de Deus dava-se quando os homens eram obedientes à sua lei e tal revelação cessava quando o coração humano se corrompia. Neste sentido, o desenvolvimento das ciências comportou estágios de progressos e retrocessos. Teceremos comentários no que diz respeito à ideia que Bacon tinha sobre o seu século e os doutos do seu tempo, como sendo um século de barbárie e de mestres incautos. Arrolaremos quais são, na percepção de Bacon, as principais fontes desta ignorância. Ele colige quatro fontes: apego às autoridades, aos hábitos, à opinião do vulgo e à ignorância. Acerca de cada uma destas fontes da ignorância, arrazoaremos brevemente. Seguir-se-ão as considerações finais ao texto.