A palavra utopia, em si mesma, é neutra: não é nem de direita, nem de esquerda. O termo grego, formado pelo prefixo “u” (não) e “topos” (lugar), significa: nenhures. Foi usado pela primeira vez pelo filósofo inglês São Thomas Morus, que assim intitulou a sua obra mais famosa. O fato é que o pensamento utópico já existia bem antes de Thomas Morus.
Uma utopia, como a própria terminologia já indicara acima, aponta para um “mundo” que não existe em lugar nenhum. Transpor as barreiras do mundo atual e remodelá-lo à luz de um suposto mundo “ideal”, eis o intento de toda utopia. Existe aí uma dialética bastante instigante: afirma-se o mundo em que vivemos, negando-o, ao mesmo tempo, em nome de um “outro mundo”. Em nome de um mundo melhor, nega-se o mundo no qual vivemos. No entanto, a matéria da qual será feita este suposto “mundo perfeito” é o nosso mundo. É ele que se vai transformar, enfim, no mundo ideal. Eis, pois, então, outro corolário do pensamento utópico: a utopia é um projeto que se pode realizar na imanência absoluta do nosso mundo, isto é, no espaço e no tempo. |