Teria a Idade Média, além da arte, da poesia e da literatura que lhe são próprias, tido também uma filosofia que lhe fosse peculiar? Para responder a esta pergunta, nasceu o mais importante estudo do século XX sobre a história do pensamento medieval: L’ Esprit de la Philosophie Médiévale, de Étienne Gilson. No prefácio da supracitada obra, explica-nos o seu autor.
Ao termo deste concurso, confessa Gilson, que não somente descobriu que há uma genuína filosofia na Idade Média, mas que nela se encontra o ápice do que se poderia chamar de uma filosofia cristã.
Agora bem, ao colocar a filosofia medieval como o cume da filosofia cristã, nasce, então, mais um problema: existe uma filosofia cristã? Portanto, no bojo da negação de que houve na Idade Média uma filosofia, há outra questão, ainda mais sutil e complexa, mas da qual não podemos nos furtar: há uma filosofia cristã?
Para Gilson, todo o problema gravita em torno desta questão: existe a possibilidade de haver uma filosofia que se apresente, ao mesmo tempo, como filosofia e como cristã? Ora, se identificarmos que existe uma filosofia que se possa dizer cristã sem deixar de ser filosofia, então o passo seguinte seria apenas demonstrar que os seus representantes mais eloquentes encontram-se na filosofia medieval.