Neste artigo serão contempladas algumas facetas da “antropologia” vigente na Patrística. A fim de darmos cabo aos trâmites, elegemos quatro padres, cujas obras abrigam perspectivas concernentes à antropologia filosófica que julgamos não devam ser olvidadas. São eles: Atenágoras de Atenas, Gregório de Nissa, Nemésio de Emesa e Agostinho de Hipona. A influência deles, máxime de Agostinho, será recorrente até a alta Idade Média. A ressonância das suas teses repercutirá por séculos afora no pensamento cristão. Aqui iremos ater-nos à antropologia de cada um deles, mormente no que toca às relações entre alma e corpo. A nossa abordagem será filosófica e esforçar-nos-emos a fim de que ela não se ressinta, ao final, imiscuída por sentimento religioso.
Acerca da ordem dos pensadores, obedeceremos à cronologia: Atenágoras de Atenas, Gregório de Nissa, Nemésio de Emesa e Agostinho de Hipona. Quanto ao discurso, fá-lo-emos da seguinte maneira: tentaremos produzir uma breve síntese da sua antropologia, privilegiando as suas concepções acerca das relações entre alma e corpo; referindo-se especificamente a Agostinho, faremos breves observações acerca da terminologia da sua “psicologia”, seguida por uma exposição concisa da sua teoria da sensação, onde se observa com maior nitidez como ele pensa, na concretude da existência, as relações entre alma e corpo. Da teoria das sensações, passaremos às descobertas do cogito e da verdade, pois são nelas que a noção de conhecimento, coroa das relações entre alma e corpo em Agostinho, encontram o seu término natural e espontâneo. As exposições dos demais autores serão mais sucintas. Após termos abordado os pensadores elencados, seguir-se-ão as considerações finais deste trabalho.
Relativamente à bibliografia, no que concerne às fontes, teremos as próprias obras dos autores como referenciais teóricos, máxime utilizando a “Coleção Patrística” da Editora Paulus, no seu segundo volume, que colige os principais textos apologéticos do cristianismo primitivo, entre os quais se encontra arrolada a obra sobre a qual arrazoaremos: Sobre a Ressurreição dos Mortos, de Atenágoras. De Gregório Niceno, valer-nos-emos da Grande Catequese, com tradução de Giovanni Reale, e Macrina com tradução de Boehner e Gilson. Em relação a Nemésio, disporemos do opúsculo De Natura Hominis, com tradução de Gilson. Por fim, em se tratando de Agostinho, lançaremos mãos de várias obras que discriminaremos no decorrer do texto.
No que toca aos comentadores, teremos como aporte intelectual três obras. De Atenágoras, trafegaremos pela clássica obra de Étienne Gilson, La Philosophie au Mon Âge. De Scot Érigène à Guilllaume d’Occam [1922], na sua versão modificada – La Philosophie au Mon Âge. Dès Origines Patristiques à la Fin du XIV – que data de 1944. A tradução que seguiremos, no caso, será a brasileira, feita por Eduardo Brandão e lançada pela Editora Martins Fontes, em 1995: A Filosofia na Idade Média. Já de Gregório Niceno e Nemésio de Emesa, valer-nos-emos da História da Filosofia Cristã. Desde as Origens até Nicolau de Cusa [1951] – parceria de Gilson com Philotheus Boehner –, trazida para o vernáculo pelo Prof. Raimundo Vier, em 1970, a partir da edição alemã: Christliche Philosophie – von ihren Anfaengen bis Nikolaus von Cues [1952 a 1954]. Quanto a Agostinho, frequentaremos a Introduction à l’étude de Saint Augustin, outro clássico de Étienne Gilson. Transitaremos nesta obra através da recente edição brasileira pelas editoras Discurso Editorial e Paulus, que conta com tradução de Cristiane Negreiros Abbud