De Nemésio nada sabemos além do fato de ter sido Bispo. A obra a ele atribuída, De Natura Hominis, exerceu significativa influência durante a escolástica, pois todos a tinham como de autoria de São Gregório de Nissa. Na verdade, em muitos pontos a obra possui concepções análogas às do pensamento do grande doutor niceno. Contudo, em outros tantos aspectos, afasta-se da doutrina de São Gregório. Notável é a preocupação do Bispo de Emesa com a exatidão dos conceitos. O seu modo de acolher ou de rejeitar a doutrina dos antigos revela-nos alguém com grande conhecimento dos autores profanos.
Neste artigo, versaremos sobre a antropologia e a psicologia de Nemésio. Acerca da sua antropologia, tentaremos entender a sua concepção do homem como um microcosmo, elo entre o mundo sensível e o espiritual. Em seguida, esmeraremos por compreender a sua definição da essência humana: um intelecto que se une a um corpo material, sem se misturar a ele. Depois passaremos a falar sobre como Nemésio entende as faculdades da alma: a imaginação, o imaginável, os fantasmas e a reminiscência. Esforçar-nos-emos por tornar patente a divisão que o Bispo de Emesa introduz na alma. Na sua concepção, a alma possui uma parte irracional que obedece à razão e uma irracional que não se submete à razão. A irracional que obedece à razão se subdivide, por sua vez, em apetitiva, sede dos prazeres, que podem ser sensíveis ou espirituais, e irascível. Aos prazeres da alma, Nemésio chama alegrias. Veremos que ele adota a mesma divisão de Epicuro para classificar os prazeres como: naturais e necessários, naturais e não necessários e nem naturais, nem necessários. As paixões irascíveis são as mais animalescas. As paixões da parte irracional que não obedece à razão são as funções geradoras e vitais.
A seguir, falaremos do que concerne às ações humanas, que Nemésio divide em ações involuntárias, que são aquelas que procedem da ignorância ou da coerção, ações voluntárias, que são aquelas cujo princípio é o próprio sujeito, e as ações “não-voluntárias”, que são as nutritivas. O nosso filósofo ainda se debruça sobre a estrutura do ato humano, que é constituído pela deliberação (escolha dos meios para se alcançar um fim), o juízo, e a escolha propriamente dita (escolha do fim). Verificaremos que, se a escolha do fim é determinada, pois todos os homens querem ser felizes, a escolha dos meios não é, pois podemos escolher – conforme nos inclinamos aos bens sensíveis ou aos espirituais –, os meios que julgarmos adequados para alcançar este fim. Veremos que, em Nemésio, possuímos livre-arbítrio pelo fato de sermos livres para escolhermos, conforme nos aprouver, os meios conducentes ao fim. Atestaremos, enfim, que é ainda em virtude da livre deliberação acerca dos meios que nos tornamos responsáveis por nossos atos.