Hoje se sabe com alguma exatidão que o autor das obras atribuídas a Dionísio é do século V da nossa era. Ao que tudo indica, viveu entre os monges sírios. Contudo, durante a Idade Média, Dionísio nada tinha de “Pseudo-Areopagita”; ao contrário, era tido como o próprio ateniense convertido por São Paulo, quando da pregação deste no Areópago de Atenas (At. 17). Na verdade, o próprio autor de obras basilares como Dos Nomes Divinos descrevia-se como espectador do eclipse solar que se deu por ocasião da morte de Cristo. Atestava, além do mais, ter assistido à morte da própria Virgem, além de insinuar ter tido conversações frequentes com vários apóstolos. Ora, depois de tal apresentação, não nos devemos assustar que Dionísio tenha chegado a ter uma autoridade ainda maior que a do próprio Agostinho, inferior à da Sagrada Escritura.
As dúvidas acerca da origem apostólica do autor só começaram a ser levantadas no humanismo do século XV, notadamente por Lourenço de Valla. Acentuaram-se ainda mais no período da Reforma Protestante. Quanto ao autor da obra Dos Nomes Divinos é certo que não é um neoplatônico com vestes cristãs, mas, como bem observou Stiglmayr, é antes um cristão com vestes de filósofo neoplatônico. Por sua profunda reverência ao “Deus desconhecido”, o Doctor Hierarchicus recebeu o epíteto de “pai da mística”.
O nosso artigo trata das quatro vias para o conhecimento de Deus, em Dionísio. São, na verdade, quatro teologias: a simbólica, a afirmativa ou catafática, a negativa ou apofática e a mística. Tentaremos mostrar como, na concepção de Dionísio, a teologia negativa supera a afirmativa e a teologia mística supera as duas, por ser antes uma experiência resultante da união do místico com Deus do que um conhecimento conceitual da divindade, que é sempre débil na acepção do nosso autor. Por fim, trataremos dos nomes divinos, tema clássico na teologia medieval. Verificaremos que o Pseudo-Areopagita classifica os nomes divinos em dois grupos, a saber, os que expressam a essência indivisível e a unidade absoluta de Deus e os que exprimem a Trindade nas suas relações.
Os referenciais teóricos da nossa abordagem serão duas obras de Dionísio: A Teologia Mística, com tradução para o português de Prof. Luis Alberto De Boni, em Filosofia Medieval: Textos e Dos Nomes Divinos, com tradução ao vernáculo feita pelo Prof. Bento Silva Santos. Também nos servirão de aportes teóricos as obras de Etienne Gilson: La Philosophie au Mon Âge. De Scot Érigène à Guilllaume d’Occam (1922), em sua versão modificada – La Philosophie au Mon Âge. Dès Origines Patristiques à la Fin du XIV – de 1944. No caso, a tradução que seguiremos será a brasileira, feita por Eduardo Brandão e lançada pela editora Martins Fontes, em 1995: A Filosofia na Idade Média. Do mesmo autor, desta feita em parceria com Philotheus Boehner, a não menos apreciada: História da Filosofia Cristã. Desde as Origens até Nicolau de Cusa (1951) ––, trazida ao vernáculo pelo Prof. Raimundo Vier, em 1970, a partir da edição alemã: Christliche Philosophie – von ihren Anfaengen bis Nikolaus von Cues (1952 a 1954). |