Com Guilherme de Ockham consolida-se a separação entre fé e razão. O Inceptor Venerabilis critica a filosofia pela teologia. Para rebater o averroísmo Ockham opõe as duas ciências entre si. Na verdade, esta oposição já era pretendida pelos próprios averroístas. Todavia, no caso específico do averroísmo, a razão tinha a primazia, ou seja, ela era colocada, de certa forma, como superior à fé. Já em Ockham, o primado pertence à fé, e o resultado é similar ao do próprio averroísmo, qual seja, a completa separação entre fé e razão e filosofia e teologia. Contudo, diferentemente do averroísmo – ratificamos – Ockham tenta assegurar a superioridade da fé sobre a razão e não o inverso.
O nosso texto procura mostrar, em suas linhas gerais, quais os conceitos pelos quais Frei Guilherme propugna a completa separação entre fé e razão, começando por breve intróito às bases da sua epistemologia. Em seguida, como corolários espontâneos da sua epistemologia, buscaremos a distinção e a completa separação das duas ordens do conhecimento, a saber, a da filosofia e a da teologia. Posteriormente, empreenderemos esforços para deixar evidente como esta radical separação entre os dois domínios repercute na sua teologia, a partir da sua concepção da onipotência divina, que elimina qualquer possibilidade de a razão chegar a Deus por meio das criaturas. Por fim, passaremos a arrolar as principais consequências da sua crítica para a filosofia e para a teologia.