Henrique Cláudio de Lima Vaz (1921-2002) é considerado o mais criterioso historiador da filosofia no Brasil. Além de estudioso da filosofia, foi filósofo na acepção mais clássica da palavra. Trata-se do único pensador brasileiro que teve a sua obra tomada como tese de doutorado na Itália. Se nascido na França, afirmam alguns, com certeza não teria precisado “tirar o chapéu” para nenhum dos seus contemporâneos. Na verdade, a profundidade da sua influência no nosso meio, deu-se, entre outras coisas, em razão da sua vastíssima cultura e erudição filosófica que, de resto, já bastariam para colocá-lo entre os principais pensadores cristãos dos últimos tempos. Nascido em Ouro Preto, Minas Gerais, em agosto de 1921, Lima Vaz entrou para a Companhia de Jesus em 1938. Ordenado sacerdote em 1948, formou-se em Filosofia (1945) pela Faculdade Pontifícia de Filosofia da Companhia de Jesus, com sede em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Lá recebeu uma formação filosófica estritamente escolástica. No entanto, o seu pensamento jamais se restringiu aos escolásticos, nunca se ateve a eles, nem mesmo a Tomás de Aquino. Em 1950, começou o seu doutorado em Filosofia pela Gregoriana de Roma, onde obteve o título de Doutor com a tese: Sobre a Contemplação e a Dialética nos Diálogos de Platão. Sofreu grande influência do seu confrade mundialmente conhecido, o polêmico teólogo jesuíta Henri de Lubac.
Quando voltou ao Brasil, já doutorado, começou o seu magistério na própria Universidade de Nova Friburgo. Em 1955, novas linhas de interesse abriram-se ao jovem Pe. Vaz, que iniciou um aprofundamento no pensamento dos filósofos modernos e a sua filiação ao pensamento hegeliano tornou-se patente. Em 1964, deixou Nova Friburgo e passou a lecionar na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais. No ano do sétimo centenário da morte de Tomás de Aquino, voltou a debruçar-se sobre os textos do Aquinate – do qual, confessa, nunca se afastou completamente –, mas tinha, então, um interesse bem preciso, a saber, buscar a atualidade da obra deste pensador de época e cultura tão longínquas. De fato, Lima Vaz foi um dos responsáveis pela introdução – dentro do universo acadêmico brasileiro – da distinção entre o thomasiches denken (“pensamento tomasiano”) e o tradicional thomistiches denken (“pensamento tomista”). Pe. Vaz exerceu ainda o seu magistério na Faculdade de Filosofia da Companhia de Jesus, em Belo Horizonte, instituição da qual também se tornou diretor. Morreu em 23 de maio de 2002, na capital de Minas Gerais.
Neste artigo apresentaremos uma reflexão de Lima Vaz acerca da presença do pensamento de Tomás de Aquino no século XX. Antes de tudo, a razão pela qual a necessidade deste novo modo de presença se impôs. Em seguida, os perfis desta nova presença no cenário intelectual do nosso tempo. Depois, quais traços destes perfis obtiveram maior êxito e qual deles prevalecerá nas gerações vindouras. Seguir-se-ão as considerações finais sobre o texto. Da Coleção Filosofia das Edições Loyola, servir-nos-ão de aportes teóricos: III Filosofia e Cultura (1997), com o texto: Tomás de Aquino: Do ser ao Absoluto, e VII Raízes da Modernidade (2002), com o texto: Presença de Tomás de Aquino no Horizonte Filosófico do Século XII.
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